Como o autor, Daniel Defoe, nos conta no prefácio, Moll Flanders é a autobiografia de uma mulher “corrompida desde a juventude, ou antes, sendo ela mesma o rebento do vício e da devassidão, aparece para relatar suas práticas viciosas e até para descer às particularidades e circunstâncias que primeiro a tornaram perversa e à escala do crime por ela percorrida em três vintenas de anos, é natural ver-se um escritor em dificuldades para revestir de decência um tal relato, de maneira a não proporcionar a ocasião, especialmente a leitores viciosos, de transformá-lo em desvantagem para o escritor”. Além disso a personagem nasceu em uma penitenciária, casou-se cinco vezes (uma delas com o próprio irmão), foi ladra por outros doze anos e deportada para a Virgínia até finalmente atingir a realização.
O modelo para a personagem deve ter vindo de alguém que o próprio autor conheceu na prisão de Newgate, onde esteve preso por alguns meses em 1703 por razões políticas, ou de uma carta que uma ladra, de volta do exílio, enviou ao jornal que Defoe dirigia. Também há quem veja a inspiração numa personagem real, Mary Frith, a “Moll cortadora de bolsas”. Seja como for, Defoe construiu seu romance com realismo muito original para a época, antecipando a segunda metade do século XIX, mas preservando um sabor jornalístico imprescindível numa época em que o gênero romanesco era praticamente desconhecido.
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