globalismo nova ordem mundial
© Gerd Altmann via Pixabay

Globalismo e a Nova Ordem Mundial

Poucas coisas demandam mais tempo e paciência para estabelecerem-se na cultura que a introdução de uma nova terminologia no imaginário popular, principalmente quando existe uma força atuante contrária por parte dos organismos que pretendem controlar este processo, no caso os grandes grupos de mídia e a academia.

Meu primeiro contato com o conceito de globalismo se deu por volta de 2016. Eu já estava saturado do conteúdo pobre e enfadonho disponível nos jornais e revistas tradicionais então decidi baixar o aplicativo YouTube que já fazia um sucesso estrondoso com a geração que vinha a caminho. Depois de um breve período de buscas, deparei-me com a reprodução em áudio do debate que havia ocorrido alguns anos antes, em 2011, entre o brasileiro Olavo de Carvalho e o russo Aleksandr Dugin.

O tópico central do debate foi sobre quais eram as principais forças políticas atuantes no cenário histórico atual e o papel dos Estados Unidos da América nesse cenário. A bem grosso modo, a tese de Dugin poderia ser reduzida à conclusão de existência de duas forças em contraste atuando no mundo: o Eurasianismo, que abrangeria toda a cosmovisão tradicionalista oriental incluindo a religião ortodoxa russa, confucionismo e comunismo chinês, hinduísmo e islamismo; e o Atlantismo ocidental representado e liderado pelo governo liberal democrático norte americano. Já Olavo defendeu uma teoria mais sofisticada: haveria três forças globais atuando no mundo contemporâneo e não duas. Seriam elas o consórcio bolchevique 2.0 russo – comunismo chinês, o islã e, no comando da política ocidental não os Estados Unidos como uma nação liberal democrática, mas um grupo de metacapitalistas ou globalistas que detêm um poder acima dos estados nacionais.

E então chegamos no ponto onde a tensão se estabelece. Afinal, nunca nos foi ensinado a existência de um grupo de pessoas com poderes superiores às endeusadas nações modernas, então este debate só poderia prosperar entre teóricos da conspiração.

Pois bem, a ideia de governo mundial sempre existiu na cabeça de imperadores e tiranos, mas o contexto histórico, a impossibilidade tecnológica e as limitações dos recursos e da logística mantinham a ideia no mundo da imaginação. No desenvolvimento do globalismo como conhecemos hoje, o século XVIII pode ser descrito como a primeira etapa, o primeiro ciclo globalista, que precisamos, antes de prosseguir, aproximarmos de definições que dirimam frequentes confusões conceituais sobre o tema:

Globalização é um fenômeno econômico, que existe desde as primeiras sociedades, variando conforme o contexto histórico e o nível de mercantilismo dos povos. Vista sem as lentes da propaganda e da política, e de acordo com os conhecimentos e práticas mercadológicas de cada época, a globalização é apenas a manifestação de um traço social da essência humana.

Globalismo é um processo eminentemente político, que embora pareça disperso, pontual e irregular ao longo da história, tem origem determinada no tempo (pelo menos sua versão moderna) e obedece a um imperativo: o desejo de construir um ambiente de governança global, de forma a permitir, em um futuro incerto, mas próximo, o surgimento de uma autoridade mundial de fato.

Vale ressaltar que embora sejam fenômenos distintos por natureza, a globalização tem funcionado como combustível para o globalismo.

Com a criação dos primeiros sistemas bancários internacionais foi possível eliminar um dos principais entraves à ideia de governo global. Os bancos possibilitaram a centralização, o controle e a segurança dos recursos. Então, no século XVIII, um alemão chamado Mayer Amschel Bauer funda seu banco e despacha seus filhos para os principais centros financeiros da época, criando uma rede bancária de sucesso, que em pouco tempo passou a financiar as necessidades, as aventuras e os luxos da nobreza europeia. Surge aí a Casa de Rothschild, nomeada com o novo sobrenome de Mayer, que significa “escudo vermelho”.

A estrutura que deve desaparecer é a nação.” Edmond de Rothschild, em 1934

Ganham força também as sociedades secretas como os Illuminati da Baviera, criada pelo jesuíta dissidente Adam Weishaup sob as ordens de Mayer Amschel, e a Maçonaria, que evoluíram de entidades representativas para poderosos centros de discussão política. Outras famílias e instituições revelaram-se proeminentes na implantação deste plano macabro: Rockefeller e Soros, este mais recentemente e, talvez, como um “testa de ferro” de outras famílias.

A soberania supranacional de uma elite intelectual e de banqueiros mundiais é certamente preferível à autodeterminação nacional praticada nos séculos passados” David Rockefeller

Já no século XX, organismos como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional passaram a usar seus recursos para seduzir ou ameaçar governos que não se curvam às exigências de outras instituições globalistas como ONU, UNICEF, UNESCO, OMS, etc. E sabemos que estas são, por sua vez, caixas de ressonância de fundações  e think tanks criados pelas dinastias trilionárias.

O melhor exemplo do uso do crédito como ferramenta de convencimento vem acontecendo com o discurso ambientalista. Qualquer nação que faça valer sua soberania nesse campo perde investimentos e torna-se alvo não apenas destes organismos, mas também dos bancos privados, das corporações, dos tribunais e, principalmente, da mídia.

Partindo desta percepção, podemos concluir que a Nova Ordem Mundial seria um conjunto de iniciativas que visa a criação de uma nova sociedade, planejada para permitir e sustentar um governo mundial totalitário, com ramificações de maneira a controlar todos os aspectos relevantes do cotidiano da população; com o Poder centralizado nas mãos de poucos, acima das instituições e dos políticos tradicionais.

Ocorre que não é possível estabelecer novos parâmetros culturais e civilizacionais sem destruir os anteriores. A civilização ocidental foi construída, ao longo dos milênios, por influências bastante perceptíveis: a filosofia grega, o direito romano e o cristianismo. Tendo em vista estes principais pilares, basta imaginar quão vasto e profundo é o substrato onde o inimigo precisa agir. Sem esta visão de conjunto, creio que fica praticamente impossível entender a complexidade do momento que vivemos. Sem levar em conta as características que pretendem destruir para substituir, todo estudo isolado sobre o assunto parece mesmo um delírio, um exagero, uma “teoria da conspiração”.

A implantação da Nova Ordem Mundial pode ser entendida como uma grande engrenagem formada por eixos principais e dezenas ou mesmo centenas de peças periféricas. Da mesma forma que ocorre na analogia mecânica, a nova civilização avança empurrada por iniciativas conjuntas, paralelas ou contrárias (dialética de Hegel/teatro das tesouras). A revolução das ideias se dá, principalmente, pela sobrevaloração das ideologias em oposição à realidade, e a revolução dos fatos funciona como uma extensão ou consequência da anterior.

Resumindo essa questão conceitual, o globalismo seria então apenas um dos aspectos dessa nova civilização que estão tentando impor ao mundo desde a criação da Liga das Nações, precursora da ONU. A Carta das Nações Unidas assinada em 1945 mostra como a entidade nasceu para enfraquecer as soberanias nacionais, e para tanto dá aos seus membros e funcionários um poder muito maior do que as democracias transferem aos seus burocratas. E sem qualquer forma de controle externo!

Por fim e analisando em perspectiva, não posso deixar de registrar que a tão propagada Agenda 2030 não é muito diferente da “Agenda de 1945”, só que agora mais explícita. A aceleração brutal desta agenda a reboque da recente Pandemia deixou evidenciado que somos muito mais governados por burocratas de organismos internacionais que pelos representantes locais eleitos democraticamente para os cargos executivos e legislativos. Tendo em vista a abrangência deste novo Poder agora autodeclarado e turbinado pela tecnologia, restou-nos a consciência de que não há para onde fugir, o cristão ocidental não tem mais lugar nesse mundo. A tecnocracia global já é uma realidade!

Quanto as teorias políticas que Olavo e Dugin apresentaram no debate de 2011, podemos verificar que o Eurasianismo propagado pelo russo foi de fato mais visivelmente estruturado a partir do acirramento do conflito na Ucrânia em 2021 e o acordo político entre Arábia Saudita e Irã intermediado pela China no início de 2023. Porém, vale o alerta que esses arranjos políticos em tempo de guerra costumam ser fluidos (lembremos do acordo alemão/soviético no início da Segunda Guerra). Os interesses do Islã muito provavelmente se distanciariam diametralmente da atual cultura secular chinesa (Conservadorismo, Política e Fé) em hipótese de acirramento generalizado dos conflitos.

Já a descrição dos globalistas e seus intentos exposta por Olavo na ocasião do referido embate de ideias parece-me, nesta altura do século XXI, irrefutável. Embora a velocidade dos passos para a implantação dessa Nova Ordem possa ser reduzida caso a resistência civil se mostre efetiva, nada indica que a população será consultada diretamente sobre este processo. A Agenda 2030 seguirá seu curso e quem se levantar contra será silenciado. Esta é a situação que nos encontramos por nos desconectarmos da tradição. Assistiremos inertes o crepúsculo de nossa cultura? Siga o projeto Raiz Ocidental para futuras análises.

*Bibliografia: O Mínimo sobre Globalismo – Alexandre Costa

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Autor

Alexandre Castanheira

Compartilhe esse conteúdo!

Respostas de 8

    1. Excelente referência para o debate Olavo-Dugin, que acompanhei ao vivo, esperando cada semana um novo episódio! Lembrando que Dugin é o filósofo “guru” do Putin; feio demais ver o Dugin tentando encontrar uma nova roupagem para o marxismo do proletário vs burgueses, com esse argumento furado de terrestres vs aquáticos… Ele tomou um supapo do Olavo e da “foto da espingarda”. Hahaha, para quem sabe captar as referências, foi o dia que a espingarda atropelou o tanque.

  1. Parabéns ao brilhante articulista. Não é tarefa simples analisar a complexa luta pelo poder universal com uma abordagem técnica refinada mas acessível aos não acadêmicos como fez o Alexandre Castanheira.
    Um trabalho admirável!

  2. Excelente texto meu caro! Muito bem explicada a diferença entre globalismo e globalização bem como a correta definição dos pilares que sustentam essa agenda em execução!

  3. Incrível como você traz luz para esses temas cotidianos, às vezes tão mal entendidos ou mal interpretados. O “problema” é que a clareza que você nos proporcionou sobre o tema, a partir desta leitura, causa um medo inevitável do que está por vir. Por fim, parabéns pela construção do texto. Impecável!

  4. Excelente artigo do pensador mineiro Alexandre Castanheira. Lança luz sobre um assunto ainda nebuloso, na medida em que os três entes que pretendem o poder mundial não assumem, explicitamente, o papel que desempenham.
    Bela publicação do Raiz Ocidental.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode se interessar